Como ajudar os jovens com as drogas ? Que tal uma familia “auxiliar” ?
Droga é sempre droga, o que muda é o Rock’n’Roll, ele pode ser pagode, samba, funk, axé ou Rock’n’Roll mesmo, dependendo do gosto, da época e da classe econômica...
Eu nasci em um bairro de Salvador chamado São Gonçalo do Retiro, ele fica localizado entre o Campo do Águia, uma pedreira desativada, um convento da igreja católica, pelo quarto lado o Chopm I, um conjunto habitacional como as etapas de Itaparica aqui em Vila Velha-ES que eu costumo chamar de casas de pombo e para finalizar o “pentágono” no último lado tinha o “Ilê axé Apó afonja”, o maior terreiro de candomblé do Brasil dentro de uma mata que ninguém se atrevia a entrar com medo da mula sem cabeça, do saci, dos exus e os orixás é claro! que moravam lá como diziam os crentes.
O bairro ficava dentro de uma depressão na terra que daria algunas dezenas de maracanãs...
Em 1973, a minha familia morava no local mais fundo e com o “progresso” no armazém de meu pai chegamos ao meio do maracanã quando eu tinha uns 12,14 anos.
A decáda de 80 foi onde o bicho pegou ali. Eu estudava em uma escola particular de outro bairro e era tido na comunidade como um classe média dos pobres do bairro.
O nível de criminalidade era tão grande no local que a polícia dificilmente se aventurava em entrar no local. Umas das vezes que me lembro, entraram 5 viaturas e saíram 3 com alguns policiais mortos e outros feridos gravemente.
A nossa segunda moradia no bairro, a de classe média dos pobres, já ficava em uma rua grande e NÃO asfaltada que cortava o bairro e levava ao Campo do Águia.
O Campo do Águia é uma planície cheia de homens que faziam tipo de águia mesmo. Eles eram espertos e certeiros em pegar suas “presas”, há alguns anos lá foi preso o maior traficante de drogas do nordeste. Depois dele ter contribuído por décadas com a polícia da Bahia, houve um desentendimento e a “casa caiu” para o traficante...
Voltando à “baixinha”, nome mais popular do local que eu morava.
A minha mãe, sempre comerciante, era muito conhecida e veio da cidade de Pojuca depois de casar com meu pai e ele conseguiu um emprego de motorista na sucursal do jornal o globo em Salvador e tocaram a sua vida ali mesmo. Ela viu passar gerações de traficantes, na sua maioria nascidos no bairro e outros importados. Todos, que eu me lembre, respeitavam a minha mãe e nunca tivemos problemas. Inclusive até faziam a “segurança” do armazém de meu pai que já era tipo o “wal mart” do bairro com uns 40 metros quadrados.
Traficante é assim, não se pode mexer com quem eles gostam ou respeitam.
A coisa azedou um pouco quando minha mãe descobriu que no pequeno “jardim” da frente da nossa casa estava crescendo uns pés de maconha, mas depois foi tudo esclarecido: Alguns fumantes ficavam num beco ao lado da casa e quando separavam a semente da maconha eles jogavam no “jardim” e as famigeradas resolveram brotar!
Nessa altura eu conhecia todas as drogas fumadas, mesmo sem nunca ter tocado em nada. No final de tarde era um defumador com os traficantes e viciados fumando em becos, vielas, casas, tipo o fumacê que passa hoje em prevenção à dengue. Fico até pensando o mosquito sentindo aquele cheiro de maconha forte, devia ficar doidão e não picava ninguém, pois eu nunca vi falar de dengue antes dos anos 90.
Não foram poucos os corpos que encontravámos na rua ao amanhecer pela brigas de traficantes, mas ninguém tocava nas coisas de dona Nilza, inclusive nos três filhos.
Quando minha mãe comecou a ter alguns problemas no casamento, ela foi procurar ajuda em um centro umbamdista que estava se tornando Kardecista (Não me perguntem como é isso pq. ai isso aqui viraria um livro...) e lá ela teve muito apoio até descobrir que eles faziam de tudo, exceto trazer meu pai de volta pra casa, o que era inaceitável e ela deixou de frequentar aborrecida com os “espíritos sem poder”.
Foi numas dessas idas e vindas de minha mãe que eu fui parar nesse local por “curiosidade” e depois de alguns meses fui promovido a recepcionista e alguns anos depois “médium” da casa.
Um dos trabalhos que a casa tinha era um grupo de auxílio aos jovens que consumiam drogras e esse grupo era por demais interessante e cheio de gente, é claro. Não preciso dizer que minha curiosidade me levou para lá.
Nessa época eu nem sonhava em fazer sexo e já estava entrosado até com traficante foragido do Rio. As histórias deles era como um livro de suspense que nunca acaba e eu fui aos poucos fazendo amizade.
Nesse tempo fui amadurecendo e curiosamente observando que na minha rua somente duas famílias não tinham problemas com drogas. A minha e a do meu vizinho senhor Amadeu, pessoa do interior que mais parecia um “Português cangaceiro” que tocava sanfona e colecionava armas.
Depois de muitos anos eu penso até hoje pq. apesar de tanto contato com as drogas e com os drogados eu nunca usei e os filhos de “seu Amadeu” também não. Os metódos de educação eram diferentes, minha mãe nos ensinava e mostrava a dor que aquele povo e famílias passavam e o “seu Amadeu” simplesmente dizia para os filhos: “No dia que eu olhar e perceber vocês de amizade com esses maconheiros eu mesmo dou um tiro em vocês, não vou deixar trabalho para a polícia!”
Métodos diferentes, mesmo resultado.
Os espíritos que coordenavam o centro eram fantásticos. Eles conheciam o problema desse grupo e seguravam com rédeas curtas a galera que não era moleza. Wanda fazia reunião todo domingo a tarde e eles eram “convidados a ir” e ai de quem tivesse feito besteira durante a semana. Era muito riso e muito choro.
Participei durante tanto tempo que eles viraram amigos e pelo menos 6 cumpadres, é muito comum nesses centros as pessoas idolatrarem o médium como sendo alguém especial. Pobres afilhados que eu não vejo faz mais de 10 anos!!!
Tinha uma coodenadora espiritual do centro chamada Chytania que se tornou minha mãe espiritual e ela me disse uma vez: Eu não quero saber de você envolvido com drogas! No dia que eu te pegar numa situação dessa coitado de você! E eu ficava me perguntando se aquela “observação ameaça” tinha sentido, pois eu me sentia devidamente educado pela minha mãe, pelo meu bairro e pelo grupo de apoio.
Passaram alguns anos, eu fui para a faculdade, caí no mundo, nas viagens a trabalho e deixei de “trabalhar”, pois não havia tempo na minha agenda...
Para minha surpresa não foi apenas uma vez que eu estive dentro de um carro com amigos e colegas de trabalho cheirando cocaína e me oferecendo para usar. Apesar de nunca ter tido curiosidade, eu me lembrava de Chytania na hora e acho que o medo dela me fazia olhar para os lados já esperando uma aparição dela com um cinto na mão.
Muitos se curaram, nunca todos e o que mais ajudava na “terapia” aplicada é que o grupo funcionava como uma família “auxiliar”, talvez ocupando os espaços vazios da família “original” dessas pessoas. Foi com muito puxão de orelha, sustos, choros, risos, conversas, festas, músicas da legião urbana e muita amizade que eles conseguiram substituir as drogas.
Se eu fosse contar os corretivos aplicados na galera ia ser outro livro, mas ficava claro que o método é adequado ao público. É muito dificil domar uma fera descontrolada com beijos e abraços.
Nesse tempo eu aprendi que o que leva às drogas são muitos motivos, mas o que tira das drogas é a educação na família e nossas amizades.
Quando a nossa estrutura familiar é mal formada ou mal mantida, muitos buracos se abrem e nós inexperientes e desavisados corremos o risco de cair e caímos muitas vezes.
Eu me livrei das drogas graças a minha mãe, mas padeci e padeço de tudo aquilo que eu preciso aprender e que ela não sabia me ensinar, apesar do seu infinito amor de mãe.
Abraço Fraterno!!!
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
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Eu li e o que eu senti?
ResponderExcluirFiquei totalmente impressionada de como a gente mora em um lugar por 4 anos e ainda visato-o por ter parentes por lá, mas não sabe o que realmente acontece/acontecia - creio eu que ainda acontece.
Enfim,tenho somente 16 anos e muitas experiências pela frente e uma das quais eu não quero passar de jeito ou maneira é me drogar, pois posso "viajar", me divertir, fazer "merda" mas, saudavelmente. Minha imaginação é fértil, rs.
ResponderExcluirE não esquecemos das drogas lícitas. \o/